ACETONA, O ESPÍRITO DE SATURNO
O que é a acetona?
A acetona é um composto orgânico da família das cetonas, que são compostos orgânicos caracterizados por ter uma carbonila (C=O) ligada a dois carbonos, representada genericamente pelos radicais R e R’.
Os radicais R e R’ podem ter diferentes tamanhos, de acordo com o número de carbonos que os constituem, e é o tamanho de cada R que diferencia os diferentes tipos de cetonas.
A acetona é a menor das cetonas, pois cada radical apresenta apenas um carbono:
Seu nome oficial é propanona, pois é uma cetona saturada de três carbonos (3 carbonos = PROP; saturada = AN; família das cetonas = ONA), mas também é conhecido como dimetilcetona.
Como a acetona é produzida?
Foi obtida pela primeira vez por Jean Béguin, em 1610, a partir do aquecimento do acetato de chumbo. Inicialmente, imaginou ter obtido álcool etílico, que apresenta propriedades semelhantes, mas o odor diferente. Nos séculos seguintes, foi obtida a partir de diferentes compostos, como acetato de zinco e acetato de bário, mas não recebia grandes atenções pois não tinham encontrado uma propriedade diferenciada que despertasse o interesse dos químicos da época.
Apenas no final do século XIX, foi usada em uma aplicação importante: era um dos constituintes do cordite, um explosivo sem fumaça usado como propelente em armas de fogo. Com a Primeira Guerra Mundial, passou a ser produzida em larga escala e se desenvolveu métodos mais eficientes de produção.
Atualmente é um dos produtos da indústria petroquímica, e é obtida como um co-produto da fabricação do fenol.
Quais são os usos da acetona?
A acetona é usada como solvente na fabricação de tintas, vernizes e adesivos. Apresenta alto poder de solvência de polímeros como nitrocelulose, acrílicos, poliuretanos e alguns poliésteres. Também apresenta alto poder de solvência de óleos e graxas, o que aliado a sua alta volatilidade faz com que seja ideal para ser usada como solvente de limpeza e como componente de thinners. É usada na extração de óleos vegetais e de essências naturais, pois apresenta boa capacidade de solubilizar estas substâncias, facilitando a extração dos mesmos.
Além de solvente, a acetona é usada como reagente químico, em que é transformada em uma série de produtos importantes através de reações químicas. Os produtos mais importantes obtidos a partir da acetona são os acrilatos e bisfenol-A. Os acrilatos são depois usados na fabricação de plástico acrílico, polímero superabsorvente e resinas acrílicas, enquanto que o bisfenol-A é usado para fabricação de resina epóxi e policarbonato.
Por fim, a acetona ainda é utilizada na fabricação de propelentes para explosivos, a primeira aplicação que a tornou importante.
Curiosidades sobre a acetona:
1) Espírito de saturno: quando a acetona foi obtida pela primeira vez, foi chamada de espírito de saturno. Os alquimistas costumavam chamar gases e substâncias voláteis de “espírito”, com a ideia de algo que sabiam que existia, mas não podia ser visto. O metanol, por exemplo, era chamado de espírito da madeira porque era o gás obtido ao aquecer alguns tipos de madeira. No caso da acetona, ela era chamada de espírito de saturno porque foi obtida a partir do aquecimento do acetato de chumbo, que era chamado de sal de saturno. O chumbo era chamado de Saturno pelos alquimistas em razão de sua propriedade de absorver e “devorar”, por assim dizer, todos os outros metais imperfeitos, fazendo referência ao fato do deus Saturno ter devorado quase todos seus filhos.
2) A acetona é usada como removedor de esmalte, mas não na forma pura, e sim em uma mistura com etanol e água, podendo ter ainda outros componentes como acetato de etila e acetato de isoamila. A acetona pura apresenta um poder de solvência muito elevado, e solubiliza não apenas o esmalte que se deseja remover, mas também componentes da pele e da unha, deixando as mesmas mais frágeis. Por esta razão, se você trabalha com acetona industrial ou de laboratório, não deve ser usada como se fosse a acetona de uso doméstico e de manicures.
3) A acetona é um dos solventes controlados pela polícia federal, não pelas suas propriedades, mas porque pode ser usada na fabricação de entorpecentes e de drogas diversas, que podem causar dependência física ou psíquica.
4) Nosso corpo produz acetona quando o corpo começa a utilizar gordura como fonte de energia devido a uma falta de insulina. É normal a presença de baixos teores de acetona no nosso sangue e na urina, porém em excesso, pode indicar diabetes.
